Para muitos que não sabem ao certo o motivo dessa
comemoração aqui no Rio Grande do Sul ou talvez não entendam o motivo da
comemoração, deixo essa postagem para tirar um pouco das dúvidas e conhecer
melhor a história de nosso povo.
O decorrer da Semana Farroupilha é extremamente propício a
algumas reflexões por parte dos gaúchos. Neste período deveríamos rememorar os
feitos dos heróis de 1835-45, sem perder de vista o que realmente levou homens
com a vida estabilizada a lançarem-se numa aventura temerária, que lhes poderia
custar a tranquilidade, a riqueza e mesmo suas vidas.
Poucas datas são tão festejadas e ao mesmo tempo, tão mal
compreendidas. Mentes menos aquinhoadas e
crianças de todos os tamanhos e idades costumam relacionar aquele grande
momento da História do Brasil com um suposto desejo de independência de um
suposto “povo gaúcho”, algo como uma versão campeira da Catalunha, da Irlanda
do Norte, do País Basco ou da Ossétia do Sul, desejo este fundado na ficção da
especificada cultural gaúcha, como se não tivéssemos neste imenso Brasil pelo
menos dez especificidades culturais muito bem definidas. Mal sabem eles que, no
Rio Grande do Sul de 1835, era mais fácil achar parecenças, em quase todos os
níveis, entre a Porto Alegre e a Salvador da época do que entre a Porto Alegre
de 1835 e a de hoje. Identificação com os países vizinhos, então, nem pensar.
Quem pensasse corria o sério risco de nunca mais pensar nada. Como luso-brasileiros que eram, os homens de Bento
Gonçalves nutriam ódio mortal pelos castelhanos e fariam fama alguns anos
depois, na Guerra do Paraguai e em batalhas contra os argentinos, à frente do
Exército Brasileiro que naquele momento enfrentavam. Pois era o Império o seu
inimigo e nunca o Brasil.
O hino Rio-grandense é explícito: “Como autora precursora /
Do farol da divindade / Foi o 20 de setembro / Precursor da Liberdade”. O
gaúcho – o tipo que “passa pela vida, aventureiro, jovial, diserto, valente e
fanfarrão, despreocupado” de que falava Euclides da Cunha – não era capaz de
viver sob a égide de um rei. Nascera em
território virgem de normas e só concebia ser governado por alguém a quem
pudesse escolher pelo voto. Ou seja, a
República. Seu anseio foi satisfeito em 1889, quatro décadas depois da memorável
guerra. Nenhum outro Estado da federação deu tantos presidentes ao país: o
gaúcho era talhado, de corpo e alma, para viver numa nação republicana.
Deixo para os leitores a carta de Bento Gonçalves, que
atesta, de modo definitivo, o que queriam e quem eram os farroupilhas. E
esclarece também o porquê de comemorarmos o 20 de setembro.
(OBS: As linhas abaixo foram copiadas exatamente como
estavam na carta de Bento Gonçalves, com a ortografia original)
“Srs. representantes da nação rio-grandense!
Depois da heroica revolução, que operámos contra os
opressores da nossa pátria, depois de uma luta obstinada, que por espaço de 7
anos absorve os nossos cuidados, chegou finalmente a época, em que sem grande
risco se verifica vossa reunião exigida altamente pelo voto publico.
Meu coração palpita de prazer, vendo hoje assentados n’este
venerando recinto os escolhidos pelo povo, em quem estão fundadas as mais belas
esperanças do nosso país. Eu me
congratulo convosco.”
(…)
Si me não é dado anunciar-vos o soleno reconhecimento da
nossa independência política, gozo ao menos a satisfação de poder afiançar-vos,
que não só as republicas vizinhas, como grande parte dos Brasileiros simpatiza
com a nossa causa.
Mui doloroso m’é o ter de manifestar-vos, que o governo
imperial, surdo á voz da humanidade, e com escandaloso desprezo dos mais sãos
princípios da ciência do direito, nutre ainda a pertinaz pretensão de
reduzir-nos pela força, e por em meu profundo pesar se diminui com a grata
recordação, de que a tirania acintosa exercida por ele nas províncias tem
despertado o inato brio dos Brasileiros, que já fizeram retumbar o grito da
resistência em alguns pontos do Império.
É assim, que seu poder se debilita, e se aproxima o dia, em
que, banida a realeza da terra de Santa Cruz, nos havemos de reunir para
estreitar laços federais á magnânima nação brasileira, a cujo grêmio nos chame
a natureza e nossos mais caros interesses.
Todavia o que deve inspirar-vos mais confiança, o que deve
convencer-vos de que ao fim triunfarão nossos princípios políticos, é o valor e
constância de nossos compatriotas; é ao fim a resolução, em que se acham de sustentar
a todo custo a independência do país (…)”.
- Também conhecida como Revolução Farroupilha, A Guerra dos
Farrapos foi um conflito regional contrário ao governo imperial brasileiro e
com caráter republicano. Ocorreu na província de São Pedro do Rio Grande do
Sul, entre 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.
Causas:
- Descontentamento político com o governo imperial
brasileiro;
- Busca por parte dos liberais por maior autonomia para as
províncias;
- Revolta com os altos impostos cobrados no comércio de
couro e charque, importantes produtos da economia do Rio Grande do Sul naquela
época;
- Os farroupilhas eram contários a entrada (concorrência) do
charque e couro de outros países, com preços baratos, que dificultada o
comércio destes produtos por parte dos comerciantes sulistas.
Os desdobramentos do conflito
- Em setembro de 1835, os revolucionários, comandados por
Bento Gonçalves, tomaram a cidade de Porto Alegre, forçando a retirada das
tropas imperiais da região.
- Prisão do líder Bento Gonçalves em 1835. A lidernça do
movimento passa para as mãos de Antônio de Souza Neto.
- Em 1836, os farroupilhas obtem várias vitórias diante das
forças imperiais.- Em 11 de setembro de 1836 é proclamada, pelos revoltosos, a
República Rio-Grandense. Mesmo na prisão, os farroupilhas declaram Bento Gonçalves
presidente.
- No ano de 1837, após fugir da prisão, Bento Gonçalves
assume de fato a presidência da recém-criada República Rio-Grandense.
- Em 24 de julho de 1839, os farroupilhas proclamam a
República Juliana, na região do atual estado de Santa Catarina.
O fim do movimento
- Em 1842, o governo imperial nomeou Duque de Caxias (Luiz
Alves de Lima e Silva) para comandar uma ação com objetivo de finalizar o
conflito separatista no sul do Brasil.
- Em 1845, após vários conflitos militares, enfraquecidos,
os farroupilhas aceitaram o acordo proposto por Duque de Caxias e a Guerra dos
Farrapos terminou. A República
Rio-Grandense foi reintegrada ao Império brasileiro.
A Revolução Farroupilha passou para a história como uma das
revoltas por liberdade no Brasil da época do Império, no século 19. Segundo os
livros tradicionais, o movimento começou em protesto aos impostos altos
cobrados no charque, no sal e em outros produtos da região Sul, e queria a
independência em relação ao governo central.
O historiador Moacyr Flores, autor de diversos livros sobre
a Revolta, frutos de suas pesquisas de mestrado e doutorado, contesta essa
versão. Ele considera a Revolução Farroupilha como uma guerra civil, já que
colocou os rio-grandenses uns contra os outros. "Foi uma guerra iniciada
pelos grandes proprietários rurais, chamados estancieiros. O Império, que já
cobrava impostos das propriedades urbanas, decidiu cobrar impostos sobre as
propriedades da zona rural", explica.
Segundo o professor, a população de Porto Alegre foi a favor
da cobrança na zona rural, pois pequenos proprietários da capital eram taxados.
"Por que não os grandes estancieiros?", questiona o pesquisador.
Por esse motivo, os farroupilhas, liderados por Bento
Gonçalves, tomaram o poder em Porto Alegre, no dia 20 de setembro de 1835,
expulsando de lá o presidente da província e empossando o vice. Para o
historiador, aí começa um período inédito nas revoltas brasileiras, já que pela
primeira vez os "rebeldes" conseguem implantar uma República. O
governo apoiado por Bento Gonçalves teve seis ministérios, serviço de correio,
tratados com outros países (o Uruguai foi um deles) e uma polícia própria.
"Não houve, no entanto, aplicação de ideias liberais, ou tentativa de
qualquer mudança social. Esse governo se caracterizou como uma ditadura,
reprimindo duramente qualquer opinião contrária", diz.
Outro engano, segundo ele, é achar que os negros lutaram
pelos farroupilhas em favor da conquista de sua liberdade. "Não houve
negros do lado dos estancieiros, pois estes não colocaram seus escravos para
batalhar, sempre os mantiveram em trabalho nas fazendas. Os negros que
participaram estavam do lado do Império e eram da chamada Infantaria
Negra", afirma. Mesmo o nome "farroupilha", não seria derivado
de "farrapos", referente ao estado desgastado dos revolucionários.
"Farroupilha é o nome do partido dos liberais exaltados, fundado em
1832", esclarece.
A Revolta terminou em 1845 por um tratado de paz
estabelecido entre os revolucionários e Duque de Caxias. Parte do
"fracasso" da república farroupilha deveu-se à sua não aceitação por
parte da população do Rio Grande do Sul. "Porto Alegre já era uma cidade
comercial, então é claro que ninguém apoiava uma guerra, pois sempre há
pilhagens e muito prejuízo para todos", explica o professor.
É nesse momento deve-se refletir uma frase do Hino
Rio-Grandense: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo.” Está na hora
de Novos Farrapos aparecerem em cena para exigir o que é do Rio Grande de
direito.