segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SOAMA - Favela de cães ou cãodomínio, o que é pior?

De São Virgílio da 6ª Légua para o mundo, a Sociedade Amigos dos Animais (Soama) colocou Caxias do Sul, por meio da Agência Reuters, no mapa do abandono animal. Uma matéria retratando as condições da chácara da Soama, que tem uma dívida de quase R$ 30 mil em ração, e apontando as necessidades dos animais está sendo veiculada atualmente pela agência de notícias.
A equipe da Reuters Brasil, após ver matérias na internet e nas TVs Record e Rede TV, se impressionou com a existência do que chamam de “cãodomínio”. Os jornalistas visitaram a chácara da Soama, que abriga atualmente cerca de 1.800 animais, e perceberam um potencial para uma notícia de relevância internacional: o Brasil, um país conhecido mundialmente pelas suas favelas, também tem uma favela de animais.
Em maio desse ano, uma equipe da Reuters fretou um táxi aéreo e visitou a chácara para filmagens. Em seguida, voou a Porto Alegre para entrevistar a diretora de marketing voluntária da instituição, Natasha Oselame Valenti.

Assista o vídeo da matéria feita pela Reuters.


Na reportagem, Natasha confirma que sim, Caxias tem realmente uma favela de cães. Por mais que a matéria não tenha mostrado o trabalho dos voluntários da Soama, ela deixou claro que briga pela mudança no quadro de abandono de animais:
“A ênfase da matéria foi a favela mesmo. Nós temos vergonha daquela chácara. Aquilo não é vida, é um horror. Mas travamos uma luta diariamente para mudar essa situação”, lamenta Natasha.
A voluntária só lamenta que essa seja a cara que a cidade mostre ao mundo: a de quem não respeita seus animais.


“Que vergonha, Caxias do Sul. Que vergonha. Está na hora do pessoal acordar. Se tem menos vergonha da favela do que do jeito que Caxias trata seus animais. A chácara da Soama é um retrato disso.”


Ao entrar na sede da Soama (Sociedade Amigos dos Animais), a primeira reação do visitante é de espanto. Milhares de olhos se voltam para o portão de acesso e um som de latidos inicia aos poucos, até tomar conta da atmosfera. É neste terreno de 1,5 hectare, afastado do centro da cidade, onde vivem cerca de 1.600 cachorros e 200 gatos abandonados nas ruas de Caxias do Sul (a 125 quilômetros de Porto Alegre), na serra gaúcha.

Não se trata de uma favela de cães, como a chácara ficou conhecida. A Soama está mais para um campo de refugiados, onde centenas de animais, antes abandonados à própria sorte, recebem atenção e esperam por um novo lar. Só em 2010, a instituição recebeu 914 cães e gatos, e conseguiu novos lares a 491 deles.

Há 13 anos a ONG (organização não-governamental) atende os bichos, antes de encaminhá-los à adoção. São todos recolhidos da rua em péssimas condições: alguns atropelados, outros espancados. Na chácara eles são medicados e, a maioria, castrados e identificados por chip.

A organização sobrevive com a dedicação de duas dezenas de voluntários mais assíduos, afirma Natasha Oselame Valenti, 34 anos, diretora de marketing da ONG, e filha de Dinamar Oselame, uma das fundadoras. Com o auxílio deles foi desenvolvida uma grife própria, que comercializa pela internet diversos produtos, como camisetas, chaveiros e chinelos, que ajudam na renda da ONG.

Da prefeitura de Caxias do Sul – que também cede o terreno para a Soama - vem uma verba mensal, que serve para o pagamento de dez funcionários, um veterinário e 14 toneladas de ração por mês.

“Descobrimos que existe uma lei federal que afirma que os animais são tutelados pelo Estado. Procuramos o Ministério Público, que fez com que essa lei seja cumprida em Caxias”, conta Natasha, ao se referir ao artigo primeiro do decreto 4.645, de 1934.


A imagem das casinhas de madeira dispostas por toda a extensão do lugar dá um ar de aparente desordem. Mas é puro engano. Cada animal tem dois potes, um para água e outro para comida, e fica amarrado à sua casa, o que delimita o seu espaço. Eles não podem ficar soltos, já que são separados por tamanho, idade, humor e agressividade.

São poucos os ferozes, como um, sem nome, de grande porte, que Bira, um dos tratadores, advertiu: “não chega perto desse aí, não”. Jorge Maciel, o Bira, tem 49 anos e há 12 meses trabalha na Soama. Era restaurador de móveis, até que foi chamado à chácara para realizar um pequeno conserto. “Foi o destino que me trouxe aqui.”

Bira é o “empregador”, o homem que avalia se o novo servente tem condições de trabalhar no cuidado dos bichos. “Esses animais dependem da gente para comer e beber. Por isso esse tipo de trabalho tem que se fazer com alegria e amor.”

Há cerca de um ano Giovane da Silva, 20 anos, ex-ajudante em uma transportadora, passou pela aprovação de Bira. O trabalho na ONG é menos braçal, mas exige muito ânimo: “A gente trabalha até em fim de semana. Mas vale muito a pena. Quando estou de folga, sinto saudade dessa bicharada”, admite o jovem, enquanto caminha pelas centenas de cachorros, repondo os potes de água um a um.

Preconceito
“Por que o vira-lata vale menos? O cachorro adotado é eternamente grato ao seu dono”, afirma Natasha, ao condenar o preconceito da população com os animais com mistura de raças. Ela tem realizado palestras em escolas da cidade para divulgar o trabalho da organização e ensinar a importância de se tratar um animal com respeito. “É difícil fazer o adulto que pensa que bicho é um objeto mudar de idéia. Porém, as crianças são muito mais abertas.”

E é por muitos desses adultos que Natasha é questionada sobre o trabalho que faz. “Tanta criança passando fome na rua, alguns dizem. Então respondo: compaixão é por tudo e por todos.”

Visite o site da SOAMA e descubra como ajudar CLICANDO AQUI

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